terça-feira, 19 de julho de 2011

Fábrica de Conservas "Brandão, Gomes & Cª Ldª"

Fábrica de Conservas "Brandão, Gomes & Cª Ldª"

Instalada num terreno pantanoso, a sul do novo aglomerado piscatório, a Fábrica de Conservas "Brandão, Gomes & C.a", foi fundada pelos irmãos Brandão (Henrique e Alexandre) e pelos irmãos Gomes (Augusto e José, que cedo sairia da sociedade), todos oriundos de Ovar e regressados do Brasil, onde angariaram fortunas consideráveis. Introduzindo os processos e a maquinaria mais moderna, com tecnologia importada (França, Holanda e Alemanha), a Fábrica centrou-se na conserva da sardinha (pois a capturada nas águas de Espinho era tida como excepcional, visto não possuir escamas), mas disponibilizava uma oferta diversificada, que incluía outros tipos de peixes, sopas, legumes, carnes, compotas e refeições preparadas. A energia era fornecida por um motor de explosão a gás pobre, por outro com três caldeiras a vapor e por um dínamo para iluminação eléctrica (em 1897, estavam já instaladas cerca de 150 lâmpadas), empregando um contingente de trabalhadores variável conforme o volume de matéria-prima (entre 300 e 500 pessoas, predominantemente do sexo feminino). Nos primeiros seis meses de laboração, foram produzidas 40 toneladas de produtos, pelo que foi celebrado um contrato, com os Caminhos de Ferro, para o transporte mínimo anual de 70.000 quilos, sendo o seu escoamento dirigido, preferencialmente, para a exportação, onde pontificavam os mercados de África e do Brasil. A sua estratégia de penetração apoiou-se na qualidade e numa campanha publicitária intensiva, a partir da divisa "Melhorando Sempre", pelo que angariou, em pouco tempo, o reconhecimento público. Em 1895, foi nomeada, por alvará de D. Carlos, fornecedora da Casa Real, "tendo em consideração o seu progressivo desenvolvimento industrial". Em 1897, o Júri da Classe IV da Exposição Industrial do Porto, atribui-lhe a única medalha de ouro para o ramo conserveiro, e o Governo agraciou-a, um mês depois, com o oficialato da Ordem de Mérito Industrial. A Fábrica de Conservas "Brandão, Gomes & C.ª", ao atingir proporções relevantes no mercado nacional, teve uma influência determinante no desenvolvimento de Espinho: absorvia grande parte do pescado, assegurando a sobrevivência de centenas de famílias; criou postos de trabalho, atraindo novos residentes e gerando rendimentos que aumentaram o poder de compra e permitiram consolidar o comércio local; gerou um aumento das receitas fiscais cobradas na freguesia, transformando-a numa das mais rentáveis do concelho da Feira; estimulou o progresso tecnológico, arrastando inovações decisivas como a luz eléctrica, o telefone e o telégrafo; promoveu o nome de Espinho, associando-o ao prestígio da sua marca, pelo que funcionava como cartaz de propaganda turística.

*** O Reino da Sardinha O anúncio luminoso que, no princípio do século vinte, se exibia na esquina do Hotel Bragança (o estabelecimento hoteleiro mais representativo da época) tem um valor simbólico muito forte e foi o primeiro anúncio luminoso eléctrico existente em Portugal,reflectindo, pois, a dimensão da Fábrica de Conservas “Brandão Gomes” como empresa dinâmica que apostava na valorização da sua imagem e não hesitava em recorrer a este expediente publicitário, quando a luz eléctrica dava os seus primeiros passos. Fundada em 1894 por emigrantes regressados do Brasil (os irmãos Brandão e os irmãos Gomes), a fábrica contribuiu, decisivamente, para a evolução acelerada da popular praia de banhos. No processo de constituição do concelho funcionou como um trunfo decisivo, capaz de convencer o pode instituído e de vencer as resistências, passando a assumir-se como uma força política autónoma, conhecida como o Grupo da Fábrica, que influenciaria os destinos locais nas primeiras décadas de existência como entidade autónoma. Três anos após a sua criação, a “Brandão Gomes” era agraciada com uma medalha de mérito e incluída na honrosa lista dos fornecedores exclusivos da Casa Real. Nessa altura, a electricidade não passava de uma novidade reservada aos privilegiados, mas nas suas instalações já trabalhava um dínamo e funcionavam 150 lâmpadas, quando a população se contentava com os candeeiros a petróleo. Aproveitando a vaga de inovação que se registou em Portugal, quando as rodas hidráulicas foram substituídas pela máquina a vapor, a fábrica contribuiu para alcandorar a lata de sardinha aos lugares cimeiros das exportações, ainda que alargasse a sua oferta para outros alimentos, desde as sopas e os legumes às carnes, aos peixes, aos “pickles”, aos molhos e às compotas. A sua produção diária rondava ao 30 mil latas, a tecnologia era importada da França e da Alemanha, os mercados do Brasil e de África constituíam o destino principal, empregava mais de 300 pessoas e dava-se ao luxo de manter em laboração filiais noutros pontos do litoral (Matosinhos, S. Jacinto e Setúbal). Como absorvia grande parte do pescado e dava emprego a muita gente, a Fábrica de Conservas contribuía para a sustentação da Vila e ajudava a divulgar o seu nome um pouco por todo o Mundo. Na década de vinte, a chama foi-se apagando e o seu lugar passou a ser ocupado por outro tipo de actividades. Ficou, contudo, presente uma memória tão exuberante como o anúncio que brilhava na frontaria do “Bragança”... (Hotel Bragança onde hoje é o Aparthotel Solverde)

*** 1870:Por este tempo existia na rua das Estrela, que era uma rua semi-paralela à rua do Areal e ficava a cerca de 200 metros do centro da actual esplanada, uma fábrica de conservas, fundada por um indivíduo de apelido Coelho, que veio a fazer parte mais tarde, da firma «Lopes, Coelho, Dias & C.ª» que montou uma fábrica de Conservas em Matosinhos. 1894:Foi inaugurada por Alexandre e Henrique Brandão, e Augusto José Gomes e dedicou-se não só a conserva de peixe mas também de carnes, sojas, hortaliças, frutas, pickles, azeitonas, azeites, mariscos, etc... 1895:A 20 de Julho o rei D. Carlos assina um alvará nomeando a Fábrica Brandão Gomes & C.ª fornecedora da sua casa Real e dando-lhe o título de «Real Fábrica de Conservas Alimentícias». Eis o teor do alvará: «Eu El-Rei faço saber a vós Francisco de Mello, Conde de Ficalho, Par do Reino, Conselheiro d’Estado e effectivo gran Cruz da Ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo e de outros estrangeiros, gentil Homem de Minha Real Comarca e meu mordomo Mor: que atentas as circunstâncias que concorreu em Brandão Gomes & C.ª, proprietários da Fábrica a Vapor de conservas alimentícias em Espinho. Conselho da Feira, distrito d’Aveiro, hei por bem e em apaz fazer-lhes mercê de os nomear fornecedores da minha Real Casa dos produtos do seu fabrico, sem vencimento algum pela Fazenda Real e tendo em consideração o progressivo desenvolvimento industrial do referido estabelecimento, sou servido nomeá-la com o título de Real Fábrica de Conservas Alimentícias, gozando de todas as honras e distinções que direitamente lhe pertencem com estes títulos poderão os agraciados colocar as Armas Reais Portuguesas no frontespício da dita fábrica. Em firmeza do que, mandei passar este alvará por mim assinado, que será cumprido como n’elle se contem, sendo registado nas repartições competentes. Paço em 20 de Julho de mil oitocentos e noventa e cinco.» 1901:A «Gazeta de Espinho» na sua edição de 19 de Maio dizia que «tem sido importante a conserva de ervilha naquele estabelecimento industrial» e que já subiam a umas dezenas de contos de reis as importações realizadas daquele género.

1912:Na sessão da Câmara de 10 de Fevereiro foi presente um ofício da Firma «Brandão Gomes & C.ª Lda.», pedindo licença para construir nova fábrica no terreno fronteiro à sua fábrica destinado ao leito das ruas 16, 18, 20 e 22. Na sessão da Câmara de 21 de Fevereiro foi deliberado não ceder os terrenos pedidos pela firma «Brandão Gomes & C.ª Lda.» para construção de uma nova fábrica, pois tais terrenos destinavam-se às ruas da Vila e prejudicaria «o progresso e aumento da povoação». Na sessão da Câmara de 16 de Março foi presente um ofício da firma «Brandão Gomes & C.ª Lda.», no qual participava a sua desistência da construção de uma nova fábrica. 1914:A «Gazeta de Espinho» de 9 de Agosto anunciava que tinham suspendido a sua laboração as fábricas de conservas «Brandão Gomes & C.ª» e a Serração de Madeira de Gomes & C.ª 1917:Em sede própria, na rua 19 esquina da rua 18 abriu no dia 24 de Janeiro a nova Cooperativa dos Empregados da Fábrica «Brandão Gomes & C.ª Lda.», sob a gerência de António Gonçalves Rodrigues. 1925:Foi visitada no dia 4 de Setembro pelos ministros do comércio e da Instrução Pública, que se acompanhava duma grande parte da imprensa diária do país.