d'EspinhoViva


domingo, 28 de dezembro de 2014

Costumes antigos












Publicada por *rosam@r às 17:42
Mensagens mais recentes Mensagens antigas Página inicial
Subscrever: Mensagens (Atom)

...Acerca de mim...

A minha foto
*rosam@r
Espinho, Portugal
Ver o meu perfil completo

...onde me encontra...

blog da rosamar
blog da taruca
cantinho da rosamar
imagens da rosamar
rosamar'space
rosamary'spaces
rosa negra
recordaçoes da casa amarela
casa amarela 2
musica é vida
antiguidades
espinho em poesia
rainha da costa verde
rosaVareira
se essa rua fosse minha
viva d'espinho
banda de musica de espinho
clarinetissimo
tuna musical de anta
freguesia de cesar
manduka place
santa maria de lamas
blog da rosamar 2
pensamentos e desabafos




Rosa Vareira d'Espinho

...meu anjinho...

*ACENDA UMA VELA*

...pomba da paz...


Esta pombinha da paz voa de site em site. Ajude-a a fazer a volta ao mundo, levando-a para o seu blog. Aqui ao meu ela chegou dia 29/10/2009

Etiquetas

  • Antigo (7)
  • Banheiros (1)
  • Brandão Gomes (4)
  • Conservas (4)
  • Espinho (11)
  • mapas (1)
  • Praia (2)
  • Xávega (1)

..

..

..

.

.

-

Arquivo do blogue

  • ►  2020 (2)
    • ►  novembro (1)
    • ►  março (1)
  • ►  2018 (1)
    • ►  setembro (1)
  • ►  2016 (1)
    • ►  setembro (1)
  • ►  2015 (1)
    • ►  julho (1)
  • ▼  2014 (1)
    • ▼  dezembro (1)
      • Costumes antigos
  • ►  2013 (1)
    • ►  setembro (1)
  • ►  2012 (2)
    • ►  outubro (1)
    • ►  fevereiro (1)
  • ►  2011 (8)
    • ►  novembro (1)
    • ►  outubro (1)
    • ►  julho (4)
    • ►  maio (1)
    • ►  janeiro (1)
  • ►  2010 (2)
    • ►  julho (2)
  • ►  2009 (1)
    • ►  outubro (1)

***Espinho - Arte Xávega***

ARTE XÁVEGA
Matrícula da companha de pesca do arrasto costeiro "S. PEDRO" da Costa de Espinho, efectuada no dia 02 de Janeiro de 1946
*1
Valdemar Fernandes Tato
Nº 19787
(Arrais do Mar)
Nasceu em Espinho a 09.01.1915
Filho de: Manuel F. Tato e Amélia Silva Saragoça
*2
Francisco Rodrigues Crista
Nº 15185
(Chico do Russo)
Nasceu em Espinho a 24.09.1906
Filho de: João R. Crista e Maria Pereira da Graça
*3
Adriano Gonçalves Marinhão
(O Caréu)
Nº 17102
Nasceu em Espinho a 01.03.1906
Filho de: António G. Marinhão e Maria Oliveira Meireles
*4
Alcino Gonçalves Marinhão
(O Caréu)
Nº 7036
Nasceu em Espinho no ano de 1889
Filho de António G. Marinhão e Rosa Oliveira Dias
*5
João Gomes Remelgado Chapada
(O Maragato)
Nº 20776
Nasceu em Espinho a 18.03.1916
Filho de: José G. R. Chapada e Rita Marques
*6
Francisco Pinho Pinhal
(Tono Pim)
Nº 7459
Foi casado com Conceição Rodrigues (do Padre), e pai do Delfim e António Pinhal,
*7
José de Oliveira Granja
(O Pereiro)
Nº 10256
*8
Jacinto Alves Rocha
Nº 10387
Pai de José e do Felizberto Alves da Rocha
*9
Afonso Gonçalves Rocha
(O Caréu)
Nº 22711
Nasceu em Espinho a 10.12.1918
Filho de: Alcino G. Marinhão e Rosa Pereira Rocha
*10
Fernando Rodrigues Cacheira
(O Manamuca)
Nº 11899
Nasceu em Espinho a 14.03.1896
Filho de: José Rodrigues Cacheira e Brizida Dias
*11
Florindo Cunha Folha Conceição
(O Galinho)
Nº 15183
Nasceu em Espinho a 04.01.1903
Filho de: Manuel C. Folha Conceição e de Joaquina Gomes Melo
*12
Augusto Gomes Neto
(O Ganhuço)
Nº 21422
Nasceu em Espinho a 25.03.1917
Filho de: Manuel Gomes Neto e Maria Gomes Gordo
*13
António Rodrigues Felix
(O Truta)
Nº 18060
Nasceu em Espinho a 26.04.1896
Filho de: Caetano Rodrigues Felix e Maria Silva
*14
Manuel Rodrigues Crista
Nº 9808
Nasceu em Espinho no ano de 1897
Filho de: João Rodrigues Crista
Pai de Manuel Rodrigues Oliveira
*15
Manuel Rodrigues Oliveira
(Manel Russo)
Nº 4749
Nasceu em Silvalde Espinho a 02.02 1921
Filho de: Manuel Rodrigues Crista e Virgínia Oliveira
*16
José Silva Fernandes Tato
Nasceu em Espinho a 25.08.1919
Filho de: Manuel F. Tato e Amélia Silva Saragoça
Nº 23166
*17
Manuel Pinho Branco Grosso
(Capante)
Nasceu em Espinho a 06.01.1923
Filho de Sebastião P. B. Grosso Capante e Emília André Lima
Nº 22836
*18
Emílio Nunes Gaiteiro
Nasceu em Espinho a 25.12.1901
Filho de: Manuel Nunes Gaiteiro e Laura Gomes
18637
*19
Afonso Gomes Fernandes Tato
Nasceu em Espinho no ano de 1904
Filho de: Manuel F. Tato e Amélia Silva Saragoça
Nº 14592
* 22
Armando Oliveira Casaleiro
Nasceu em Espinho na ano 1901
Filho de: Bernardo Oliveira Casaleiro e Maria Ferreira Silva
Nº 15714
*23
Eduardo Gomes Remelgado
Nº 6733
*24
Afonso Ferreira Silva Gaio
(O Vagareza)
Nasceu em Espinho a 27.12.1910
Filho de: Roberto Ferreira Gaio e Maria Ferreira Silva
Nº 23194
* 25
Américo Soares Maganinho
(O Cartola)
Nasceu em Espinho a 13.12.1921
Filho de: Francisco Soares Maganinho e Florinda Oliveira Pinto
Nº 23617
*26
Augusto Ferreira Pedro
(Do Rofino)
Nasceu em Espinho a 16.08.1920
Filho de: Manuel Ferreira Pedro e Filomena de Oliveira
Nº 22344
*27
Francisco Cunha Folha Conceição
(O Galinho)
Irmão do Florindo
Filho de: Manuel Cunha Folha Conceição e de Joaquina Gomes Melo
Nº 20774
*28
António Rodrigues Moleiro Costa
(O Talhas)
Nasceu em Espinho a 12.10.1914
Nº 11065
*29
Celestino Rodrigues Crista
(Tino Lé velho)
Nasceu em Espinho a 18.09.1898
Filho de: António Rodrigues Crista e Rosa Oliveira Nunes
Nº 13259
*30
Américo Gonçalves Rocha
(O Doutor)
Nasceu em Espinho a 24.02.1919
Filho de: Alcino G. Marinhão e Rosa Pereira Rocha
Nº 23152
*31
Jorge Cunha Folha
(Jorge da Laura)
Nasceu em Espinho a 17.10.1887
Filho de: Manuel Cunha Folha e Rosa Gomes
Nº 2859
*32
José Gomes Neto
(Zé Ganhuço)
Nasceu em espinho a 05.06.1912
Filho de: Manuel Gomes Neto e Maria Gomes Gordo
Nº 20390
*33
Francisco Pinho Rendilheiro
(O Lerogaio)
Nasceu em Ovar no ano de 1900
Filho de: Manuel Pinho Rendilheiro
Nº 13929
*34
Joaquim Rodrigues Félix
(O Jaleca)
Nasceu em Espinho a 23.08.1925
Filho de: José R. Félix e Evangelina Oliveira Dias
Nº 23608
*35
Afonso Silva
(Arrais do Mar)
Nº 15522
*36
Fernando Ferreira Silva
( O Nogueira)
Arrais de Terra
Nº 17243
*37
António Maria Silva
Nasceu em Ovar a 22.02.1928
Filho de: Afonso Silva (arrais) e Maria José Mansa
Nº 24759
*38
Manuel Fernandes Tato
Nasceu em Espinho a 28.12.1880
Filho de: Augusto F. Tato e Joanna Rodrigues
Nº 839
*39
Américo Ferreira Cabeleira
Pai de Domimgos Cabeleira
nº 9823
*40
Manuel Gonçalves Apolinário
( O Ai )
Nº 15069
*41
Alberto da Costa Padre
Nasceu em Espinho a 05.12.1913.
Faleceu no Naufrágio de 1947.
Filho de: Carlos Costa Padre e Maria Francisca
Nº 20426
*42
Jorge Oliveira Franco
Nº 19046
Foi casado com a Silvina do Mano
*43
Guilherme Ferreira Silva
(O Mano)
Nasceu em Espinho a 30.09.1923
Filho de: José Ferreira Silva e Maria Oliveira Pinto
Nº 23965
*44
José Ferreira Silva
(O Mano Pai)
Nasceu em Anta no ano de 1883
Nº 6076
*45
Narciso Maria Caneira
Nasceu em Espinho a 23.01.1895
Filho de: Gonçalo Maria e Maria Rosa André Lima
Nº 17914
*46
Sebastião Rodrigues Crista
(Da Tomásia)
Nasceu em Espinho a 20.01.1920
Filho de: Fracisco R. Crista e Adelaide Pinto Almeida
Nº 11656
*47
Benjamim Oliveira Barqueiro
Nasceu em Espinho
Filho de: Firmino Barros Barqueiro e Ana Oliveira Valongueiro
Nº 22181
*48
Cláudio Rocha Oliveira
(O Barquilheiro)
Nasceu no Concelho de Gaia a 12.06.1913
Filho de: Maria Rocha Oliveira
Nº 4146
*49
Carlos Oliveira Ferreira Pedro
(Carlos Rufino)
Nasceu em Espinho a 27.06.1915
Filho de: Manuel Ferreira Pedro e Filomena Oliveira
Nº 21423
*50
José Pinho Grosso
Nasceu em Espinho a 03.09.1913
Filho de: Herculano Pinho Grosso
Nº 20153
*51
Alvaro Rodrigues Félix
(O Truta)
Nasceu em Espinho a 10.05.1927
Filho de: António Rodrigues Félix e Aurora Santos
Nº 23613
*52
Manuel Silva Pereira
Nasceu em Espinho a 23.09.1929
Filho de: António Pereira Ganço e Angelina Silva Saragoça
Nº 24802
*53
António C. Folha Conceição
(O Galinho)
Nasceu em Espinho a 11.07.1931
Filho de: Florindo C. F. Conceição e Ermesina Gomes Silva
Nº 11700
*54
Carlos Soares Maganinho
(O Carrima)
Nasceu em Espinho a 20.05.1927
Filho de: João S. Maganinho e Madalena Pereira Graça
Nº 23972
*55
Alberto Oliveira Casaleiro
Nasceu em Espinho a 03.08.1908
Filho de: Bernardo O. Casaleiro e Maria Ferreira Silva
Nº 18667
*56
José Alves Rocha
(O Ratinho)
Nasceu em Paramos- Espinho a 19.11.1923.
Filho de: Jacinto Alves Rocha e Amélia Gomes Rocha
Nº 23621
*57
José Oliveira Brandão
Nasceu em Espinho a 25.08.1903
Filho de: Augusto de Oliveira Brandão e Emília Silva Saragoça
Nº 16420
*58
António da Cunha Folha
(Tone Jorge)
Nasceu em Espinho a 24.04.1918
Filho de: Jorge C. Folha e Laura Pereira Graça
Nº 22826
*59
António da Fonseca Marinhão
Nasceu em Espinho no ano 1860
Filho de: Manuel G. Marinhão. Foi pai da Maria
Zagala (A Barbada)
Nº 10376
*60
Domingos Pereira Cabeleira
Nasceu em Espinho a 20.09.1929
Faleceu num naufrágio ocorrido com uma bateira a 01.05.1974.
Filho de: Américo F. Cabeleira e Candida Dias Fonseca
Nº 24715
*61
Abel Gonçalves Padeiro
(O Soqueiro)
Nasceu em Espinho a 06.09.1929
Filho de: José Gonçalves Padeiro e Idalina Ferreira Campos
Nº 11661
*62
Alvaro Artur G. Marinhão
(O Louro)
Nasceu em Espinho a 05.05.1931
Filho de Adriano G. Marinhão e Deolinda Conceição F. Campos
Nº 25011
*63
António Marques dos Santos
Nº 18183
*64
Manuel Caneira Granja
(O Relhota)
Nasceu a 16.09.1931
Filho de: Narciso Maria Caneira e Maria Oliveira Granja
Nº 24801
*65
Manuel Silva Chilro
Nasceu em Esmoriz Ovar a 30.08.1926
Filho de: Armando Silva Chilro e Alexandrina Marques Leite
Nº 24284
*66
Felisberto Alves Rocha
Nasceu em Paramos Espinho a 17.11.1928
Filho de: Jacinto Alves Rocha e Amélia Gomes Rocha
Nº 11698

Matrícula da companha de pesca do arrasto costeiro “S. PEDRO” da Costa de Espinho, efectuada no dia 02 de Janeiro de 1946

***El-Rei D.Manuel II visita Espinho em 1908***


A Visita de el-Rei D. Manuel II a Espinho

Foi no dia 23 de Novembro de 1908 que el-Rei D. Manuel II visitou Espinho. Foi de manhã que el-Rei chegou a Espinho sendo esperado por todas as autoridades, presente esteve também o Bispo-Conde de Coimbra, D. Manuel Luiz Coelho da Silva. Á chegada o Presidente da Câmara, Henrique Pinto Alves Brandão,saudou el-Rei em nome de Espinho. A presença de Henrique Brandão, como Presidente da Câmara na recepção ao Rei, teve um carácter um pouco caricato, uma vez que ainda nessa manhã tinha sido empossado um novo Presidente de Câmara, Dr. António Augusto de Castro Soares, que legitimamente deveria ter estado presente nesta recepção: “A Camara d`Espinho, ultimamente eleita, devia tomar posse, como de facto tomou, na segunda-feira 23, dia da visita régia.(…) Apesar dìsto, fora da lei, a vereação cessante fez as honras da recepção.
De seguida falou, em nome da Comissão Fomentadora dos Melhoramentos de Espinho, Manuel Ribeiro Nunes, que solicitou ao Rei a protecção para os pescadores de Espinho,vítimas das invasões do mar. El-Rei agradeceu a recepção, e prometeu interessar-se pela situação dos pescadores. Seguidamente, organizou-se um cortejo até a Fábrica Brandão Gomes, fazendo parte deste cortejo o Bispo do Porto, D. António Barroso: “Organizou-se emtão um cortejo, em que tomaram parte, em automóveis e trens, as pessoas da comitiva de el-rei e muitos outros cavalheiros, entre os quaes o exe.mo bispo do Porto, D. António Barroso, que se fizera acompanhar do capelão do paço episcopal, ver. Benjamim dos Santos Ferreira Neves, seguindo todos em direção á Fábrica de Conservas Brandão, Gomes & C.ª.
Nesse cortejo estavam também integrados os alunos do Seminário Internato dos Carvalhos, que quiseram agradecer a visita de el-Rei a Espinho: “A essas saudações associaram-se também os alumnos do Seminário dos Carvalhos, em número de 10, acompanhados do seu vice-reitor monsenhor Nunes, professores e prefeitos, que levantaram calorosos vivas a el-rei, á rainha, á família real, á pátria e á monarchia, etc.
Na Real Fábrica de Conservas Brandão Gomes & C.ª, tomou a palavra o sócio Gerente Augusto de Oliveira Gomes, que saudou o Rei. De seguida, o Rei efectuou uma visita á Fábrica na qual se mostrou extremamente interessado por tudo quanto viu pedindo inclusive esclarecimentos: “Á sua passagem por varias secções, el-rei deteve-se a examinar o trabalho dos operários, fallando com alguns e sendo-lhe fornecidos amplos esclarecimnetos pelos referidos proprietários.”.

A Banda de Música da Fabrica, composta por operários, interpretou à passagem do Rei pelas instalações da fábrica o Hino Nacional: “Ao passar pela secção dos soldadores, os operários que fazem parte da banda de musica da fabrica, cessaram o trabalho e executaram o hymno nacional, como já antes haviam feito.”.
De seguida e após a saída da Fábrica, el-Rei D. Manuel II dirigiu-se com a restante comitiva à praia, onde viu com os próprios olhos os estragos produzidos pelos avanços do mar, no extremo da Rua Bandeira Coelho: “Sahindo dàlli, el-rei, acompanhado da sua comitiva, dirigiu-se á praia, sendo-lhe mostrados, no extremo da rua Bandeira Coelho, os estragos produzidos pelo mar, especialmente ao norte.”.

Após essa breve paragem junto á praia, el-Rei e os convidados dirigiram-se para a Assembleia de Espinho, onde foi servido, no salão nobre, um banquete: “D`alli, dirigiu-se o soberano para o edifício da Assembleia, que estava exterior e interiormente, ornamentada a capricho pelo hábil armador snr. Alberto Pereira.”.

A Ementa e os Convidados do Banquete Real
MENU
Consomé a la Royale
Patés de foie-gras a la Périgord
Coeur de filet a la gastronome
Chaud-froid de perdreaux a la diplomate
Pintades rôties au cresson
Salade russe
Entremets
Glace a la crême, aux noisets pralinées
Dessert
Gelée au marasquin, charlotte russe au café, fruits et bonbons divers, patisserie sortie
Vins
Collares, Aguieira, Madère, Porto, Moêt et Chandon, Anadia, Café

A direita do Rei sentaram-se: Presidente do Conselho, Bispo do Porto, Ministro das Obras Públicas, Presidente da Câmara Municipal de Espinho, Conde de Paçô Vieira, Conde de Tarouca.
Á esquerda: Ministro da Justiça, Ministro da Guerra, Bispo-Conde de Coimbra, Conde
de Águeda, D. Fernando de Serpa, Conde de Castelo de Paiva. Os restantes convivas, em número de 140, achavam-se sentados indistinctamente á mesa, que tinha forma de U.

Finalmente, após o banquete, o Rei e toda a comitiva dirigiram-se para a Estação do Caminho de Ferro do Vale do Vouga, para fazer a inauguração do troço da linha de Espinho até Oliveira de Azeméis: “Após o almoço na Assembleia de Espinho, S. M., el-rei embarcou no comboio especial da nova linha férrea do Valle do Vouga, que ia ser inaugurada.

O comboio era constituido por: maquina n.º 12, duas carruagens de 1ª classe, um salão para convidados, e salão real. Todo o material foi oriundo dos Caminhos de Ferro de Vila Real, em virtude de não ter chegado o material encomendado no estrangeiro: “Era constituído pela machina n.º12, duas carruagens de 1.º classe, um salão de convidados e o salão real, tudo de Villa Real, visto ainda não terem chegado as carruages que a Companhia do Valle do Vouga encomendou no estrangeiro.
O comboio prosseguiu para Oliveira de Azeméis, intercalado por paragens durante o percurso para as populações aclamaram o Rei de Portugal. Inaugurado solenemente a 23 de Novembro, o Caminho de Ferro do Vale do Vouga, só a partir de 21 de Dezembro de 1908 entraria em funcionamento.
Toda a visita de el-Rei ao norte do país foi documentada fotograficamente pelos mais sonantes fotógrafos da altura, em Espinho, esse registo fotográfico foi levado a cabo por Aurélio da Paz dos Reis, o pai do cinema em Portugal, que curiosamente era membro da maçonaria e estivera implicado na tentativa revolucionária do 31 de Janeiro de 1905 no Porto, essas fotografias são estereoscópicas, e terão sido encomendadas a Aurélio da Paz dos Reis pela Fábrica Brandão Gomes & C.ª. Nessas fotografias é possível testemunhar o ambiente festivo e o entusiasmo vivido pela população, destaque especial para a Real Fábrica de Conservas Brandão Gomes & Cª, que se achava profusamente engalanada, (tanto no exterior como no seu interior), para receber o Rei:
Tanto a estação do caminho de ferro como as ruas do percurso – Avenida Serpa Pinto, ruas Bandeira Coelho e do Cruzeiro, Bairro da Rainha D. Maria Pia e largo da fábrica, recentemente construído – achavam-se vistosamente ornamentados, primando pela originalidade e pittoresco das decorações.

E foi assim, a visita de el-Rei D. Manuel II a Espinho…


("Gazeta de Espinho", 29 de Novembro de 1908)
("Comércio do Porto", 24 de Novembro 1908)






***Espinho - Fonte do Mocho***



1905


***Espinho - Praia de Banhos***


1900



1900 Bandeira Monarquia



1900


1910


1910


1910



1920



1920 praia do centro



1950





Praia Azul antiga



***Espinho - Mapas***


mapa de Espinho 1870



mapa das Invasões do Mar em Espinho 1896



mapa das invasões do mar de 1889 a 1908 na "Gazeta de Espinho"




mapa de Espinho 1900



freguesias de Espinho em 2001



mapa das deslocações da linha de praia no últimos 100 anos

***Espinho - Palheiros***


1840





1905

***Visitas da Família Real a Espinho e de Presidentes da República***



*Visitas da Família Real a Espinho/ Passagens em Espinho


Rei D. Carlos acompanhado pelo Infante D. Afonso – 15 de Setembro de 1903 Carruagem Real efectuou paragem de minutos. Os membros da Câmara Municipal, o Administrador do Concelho, o Governador Civil e muito povo, aguardaram na gare a sua passagem.

Rainha D. Amélia – Novembro de 1908 Carruagem Real efectuou paragem de minutos. O Presidente da Câmara pediu autorização para a entrada da Rainha D. Amélia na gare de Caminho-de-ferro para a população a saudar.

Rei D. Manuel II – 23 de Novembro de 1908 Foi recebido por Henrique Pinto Alves Brandão, Presidente da Câmara. Visitou a Fábrica Brandão Gomes e almoçou no Salão Nobre da Assembleia de Espinho Inaugurou o troço da Linha de Caminho de Ferro do Vale do Vouga. Espinho preparou-se para a visita do Rei. Embandeiraram-se as ruas de Espinho, procederam-se a melhoramentos das ruas pelas quais iria passar, prolongou-se a Rua do Cruzeiro (actual Rua 2) Efectuaram-se outras passagens da Família Real por Espinho, que não receberam a mesma atenção das referidas.

*Visitas de Chefes de Estado a Espinho

Bernardino Machado - 23 de Dezembro de 1925 Motivo: Ciclone de 20 de Dezembro de 1925 O Presidente inteirou-se do trágico acontecimento, prometendo ajuda para as famílias do Bairro Piscatório.

Américo Tomás – 19 de Junho de 1968 – 1ª Visita Motivo: Inauguração da Nova Escola Industrial e Comercial de Espinho Na Câmara colocou-se uma lápide para recordar a visita do Presidente da República Em Cortejo, dirigiu-se à Nova Escola Industrial e Comercial de Espinho, procedendo à inauguração.

Américo Tomás – 9 de Agosto de 1969 – 2ª Visita Motivo: Inauguração de 52 moradias e 2 estabelecimentos comerciais. Almoçou na Corfi com 50 convidados. Condecorou Manuel de Oliveira Violas com o Grau de Grande Oficial da Ordem de Mérito Industrial.

Américo Tomás – 17 de Janeiro de 1974 – 3ª Visita Recebeu o título de 1º Cidadão Honorário de Espinho

Jorge Sampaio – Dezembro de 1998 – 1ª Visita Motivo: Inauguração da ADCE O Presidente da República revelou a sua preocupação com a exclusão social.

Jorge Sampaio – 16 de Junho de 2000 – 2ª Visita Motivo: Dia da Cidade de Espinho – Inauguração do Multimeios Jorge Sampaio foi recebido com festa: visitou o Bairro Piscatório, andou de karts, dançou e conviveu com a população espinhense. Inaugurou o Centro Multimeios.

Jorge Sampaio – 15 de Janeiro de 2002 – 3ª Visita Motivo: Jogo voleibol: Sp de Espinho X GVG Gomel - Top Teams Cop Cumpriu o prometido e assistiu a um jogo de Voleibol, realçando a força do clube e a sua progressão, não deixando limitar pela falta de recursos.

1 ***CRONOLOGIA ESSENCIAL***


Ano 985 - Referência documental à "villa" Spinu, localizada no actual lugar de Espinho (S. Félix da Marinha).
Ano 1510 - Referência, em carta de D. Manuel, à costa de Espinho como local de pescaria.
Ano 1737 - Referência à colónia piscatória de Espinho, como participante na revolta contra o Administrador do pinhal da Estrumada (Ovar).
Ano 176? - Separação administrativa entre o lugar de Espinho (S. Félix da Marinha) e a costa de Espinho (Anta).
Ano 1771 - Registos, na paróquia de Anta, de nascimentos e óbitos na costa de Espinho.
Ano 1776 - Descoberta do processo de conservação do peixe em salmoura.
Ano 1809 - Construção da Capela de Nossa Senhora da Guia ("Capela dos Galegos"), por iniciativa de Eugénio Nunes.
Ano 1840 - Início da procura de Espinho como "praia de banhos".
Ano 1843 - Construção da primeira casa de pedra e cal, por iniciativa de José de Sá Couto.
Ano 1863 - Início da ligação ferroviária entre Ovar e Gaia.
Ano 1864 - Reunião da Assembleia Recreativa, em que foi decidido construir sede própria.
Ano 1869 - Realização de festas em honra de Santa Rita.
Ano 1870 - Instalação, na via-férrea, do apeadeiro de Espinho. - Realização de festas em honra de Santa Rita e de Nossa Senhora da Ajuda. - Transformação da Capela dos Galegos em templo de culto a Nossa Senhora da Ajuda.
Ano 1874 - Abertura da Estação de Caminhos-de-ferro de Espinho.
Ano 1876 - Construção do primeiro matadouro e abertura da Estação Telegráfica dos Correios de Espinho. - Elaboração da primeira planta topográfica, pelo Eng.º José Coelho Bandeira de Melo. - Referência detalhada a Espinho, no livro de Ramalho Ortigão, "As Praias de Portugal".
Ano 1877 - Abertura ao culto da Capela de Santa Maria Maior.
Ano 1883 - Abertura ao culto da Capela de Nossa Senhora da Ajuda, gerida pela Confraria do Santíssimo Sacramento.
Ano 1885 - Extinção da Confraria e fundação da Irmandade de Nossa Senhora da Ajuda. Ano 1886 - Elevação da Capela de Nossa Senhora da Ajuda à categoria de Igreja, por decreto do Bispo do Porto.
Ano 1889 - Criação, em 23 de Maio, da Paróquia de Espinho, para efeitos religiosos.
Ano 1890 - Abertura, em 2 de Agosto, do Teatro Aliança, com o drama "A Falsa Adúltera". - Criação, em 30 de Dezembro, da Junta de Paróquia, para efeitos administrativos.
Ano 1891 - Eleição, em 15 de Fevereiro, da Junta de Paróquia de Espinho, que passou a ser presidida por António Pinho de Branco Miguel. - Início do processo de implantação do Cemitério. - Intensificação das invasões do mar, que destruíram uma série de habitações. - Visita a Espinho da Rainha Mãe, D. Maria Pia, para apoiar os sinistrados.
Ano 1894 - Realização da primeira Feira, com periodicidade mensal. - Inauguração do Bairro da Rainha, para as vítimas das invasões do mar. - Fundação da Associação de Socorros Mútuos de Espinho. - Fundação da Fábrica de Conservas "Brandão, Gomes & C.ª".
Ano 1895 - Transferência do Lugar do Mocho para a jurisdição da freguesia de Anta. - Fundação da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Espinho. - Estreia da revista teatral "Por um Óculo", escrita e representada por espinhenses.
Ano 1896 - Exibição da primeira sessão de cinematógrafo, em 11 de Agosto, no Teatro Aliança. - Transferência dos lugares da Ponte de Anta, Tabuaça e Mocho, para a jurisdição da freguesia de Anta.
Ano 1899 - Realização de sessão pública no Teatro Aliança, em 5 de Fevereiro, que mandatou a comissão promotora do concelho de Espinho. - Aprovação, durante o mês de Julho, do projecto de lei da criação do concelho de Espinho, pela Câmara dos Deputados e pela Câmara dos Pares. - Promulgação da lei, em 17 de Agosto, pelo Rei D. Carlos. - Publicação, em 24 de Agosto, da lei de criação do concelho de Espinho. - Tomada de posse, em 21 de Setembro, da comissão administrativa do novo concelho. - Eleição, em 13 de Novembro, sem concorrência, da primeira Câmara Municipal, presidida por António de Castro Soares.
Ano 1900 - Aprovação da nova planta topográfica, elaborada pelo Eng.º Bandeira Neiva.
Ano 1901 - Publicação, em 6 de Janeiro, do primeiro número do jornal "Gazeta de Espinho". - Apresentação, em 25 de Abril, de um projecto de extinção do concelho de Espinho, reprovado pela Câmara dos Deputados. - Eleição, para o mandato 1902/1905, da nova Câmara Municipal, presidida por Joaquim Pinto Coelho.

2***UM PERCURSO SINGULAR***

A confirmação de Espinho como concelho, constituiu a etapa decisiva de um acelerado processo evolutivo, que transformou, durante o século XIX, uma pequena aldeia piscatória numa povoação, com atractividade e dinâmica social suficientes, capaz de se afirmar e de conseguir ultrapassar as contingências. Apesar de se tratar de um concelho com uma reduzida escala geográfica e um passado pouco longínquo, o que contribuiu sempre para lhe retirar algum peso institucional, Espinho percorreu, ao longo do século XX, um trajecto semelhante, pois continuou a revelar um espírito de perseverança e uma energia colectiva apreciáveis. Espinho enfrentou violentas investidas do mar, que destruíram o seu núcleo originário, e viu alargado o concelho a mais quatro freguesias (Anta, Guetim, Paramos e Silvalde), após vicissitudes e retrocessos, mas conseguiu adoptar um figurino de ordenamento urbanístico equilibrado, encontrando, igualmente, soluções para ir respondendo às necessidades básicas crescentes da sua população residente e dos seus utilizadores sazonais. Espinho deparou-se com contextos complexos, em que as transformações económicas foram, por vezes, drásticas, mas não perdeu a capacidade de auto-suficiência, e procurou adaptar-se, com maleabilidade, às diferentes conjunturas sociais e políticas, usando-se dos mecanismos gerados por uma comunidade multifacetada. Em qualquer circunstância, encontra-se, sempre, o mesmo traço afirmativo, como marca de um percurso singular...

3***A CRIAÇÃO DO CONCELHO***

A prosperidade de Espinho constituía um dado adquirido e jogava a seu favor. A localidade gerava tantas receitas fiscais como todas as restantes 35 freguesias do concelho da Feira, era procurada anualmente por mais de 20.000 banhistas, tinha ligações ferroviárias privilegiadas, com uma proximidade estratégica ao Porto, evidenciando uma actividade económica equilibrada, que sustentava o seu núcleo de habitantes permanentes (cerca de 4.000 pessoas). No entanto, estes consideravam insuficiente a atenção que lhes era dada pelo município, como se comprova por testemunho do Padre André de Lima: « Durante o Inverno, para aqui ficávamos sem luz, sem polícia, sem limpeza, como isto fosse um burgo reles e podre; as nossas ruas cheias de covas chegaram quase a dissolver-se em areias; as suas arborizações estavam reduzidas a meia dúzia de exemplares, raquíticos e enfezados (...), as valetas estavam transformadas em monturos de porcaria e quanto a melhoramentos de abertura e balastramento de ruas era caso para mandar repicar os sinos, quando aparecia uma vereação que se dava à prodigalidade daqui despender alguns centos de mil réis nesses serviços.» Este descontentamento seria de tal forma generalizado, que um grupo de amadores conseguiu, em 1895, um assinalável êxito com a revista teatral "Por um Óculo", da autoria de António Pedro Félix, levada à cena no Teatro Aliança, em que o tema central eram as críticas pela falta de cuidado que o município dedicava à freguesia de Espinho. Não seria, portanto, de estranhar que qualquer tentativa autonomista encontrasse forte receptividade na população, como se vinha a prefigurar com insistência desde a criação da paróquia, nem que a iniciativa partisse de um núcleo claramente liderado pelos dirigentes da Fábrica de Conservas, numa época em que a sociedade portuguesa era mais sensível aos prodígios do desenvolvimento industrial, simbolizado pela máquina a vapor, do que a ancestrais pergaminhos de um qualquer condado, identificado como imagem de um passado retrógrado. O movimento formalizou-se com uma sessão pública no Teatro Aliança, na noite de 5 de Fevereiro de 1899, de onde saiu a comissão promotora da criação do concelho e uma petição aos poderes públicos, subscrita por mais de 800 cidadãos. Os argumentos centravam-se nas qualidades da povoação (condições naturais, importância dos seus edifícios e labor económico) e nas carências motivadas pela ausência de uma política municipal capaz (falta de arruamentos, de escola pública, de polícia, de iluminação e de água potável), solicitando-se que fosse decretado o concelho de Espinho e, por conveniência própria, a anexação das freguesias de Anta, Silvalde, Paramos, Oleiros, Nogueira, Mozelos, Lamas e Paços de Brandão. A comissão promotora era liderada por Augusto Gomes (sócio-gerente da fábrica de conservas) e integrava dois homens de Oleiros: José de Sá Couto Moreira (proprietário abastado e sobrinho do Comendador Sá Couto, que se manteve neutral em virtude das suas ligações com a Feira) e António de Castro Soares (médico conhecido pelas suas qualidades oratórias, que viria a construir casa na esquina das ruas 19 e 16). O peso e a resistência pública da Feira causavam algumas limitações, motivando, por exemplo, que um homem como o Conselheiro Correia Leal, deputado por esse círculo, fosse levado a não tomar posição pública, apesar de todos conhecerem a sua simpatia pelo desejo dos espinhenses, mas a rede de influências era, apesar disso, vasta, pois contava com a facilidade de movimentação de Augusto Gomes e com o apoio do Marquês da Graciosa, titular da Anadia e membro da Câmara dos Pares, frequentador da praia há muitos anos. As diligências, tomadas em Lisboa, conseguiram reunir o consenso dos dois grandes partidos do sistema constitucional e fazer subir a petição à Câmara dos Deputados. O Partido Regenerador, que estava na oposição, manifestou-se através do seu órgão oficial, o jornal "A Tarde", considerando como legítima "a reclamação daquele laborioso povo". O Partido Progressista, que estava no Governo, começou por se mostrar cauteloso e reticente, mas acabou por tomar a iniciativa, mandatando a sua principal figura parlamentar, Frederico Ressano Garcia, para defender a petição espinhense e o projecto de criação do concelho. No seu discurso, proferido em 28 de Fevereiro, salientou a importância da localidade como praia e sede de uma fábrica de conservas, repisou o argumento da disparidade entre o volume de receitas fiscais gerado e a exiguidade de investimentos públicos realizados, concluindo com um apelo dramático: «Portanto, Espinho está condenado a uma próxima decadência, se não lhe acudirem a tempo!» Nas reuniões seguintes fizeram ouvir-se deputados eleitos pelo círculo da Feira, alertando para os perigos da decisão ou alegando que Espinho não dispunha de recursos próprios para sobreviver, e respostas em sua defesa, como no caso do deputado Adriano Antero, que leu uma representação da Associação Industrial Portuense onde se afirmava: «É de sobejo conhecida a importância industrial de que já goza actualmente Espinho e fácil é de prever o grau de desenvolvimento fabril que ainda pode atingir, caso lhe seja concedida a autonomia administrativa que ambiciona». O objectivo começava a concretizar-se, ainda que sem ver cumpridos todos os requisitos, pois não foi prevista a inclusão de oito freguesias da Feira no novo concelho, conforme constava da petição, limitando-o territorialmente à sua freguesia originária. Em 11 de Julho, o projecto foi levado à Câmara dos Deputados, para ser votado, tendo por base um relatório elaborado pela comissão de administração pública, com parecer inequívoco: «É incontestável que aquela importante estação balnear tem, como poucas localidades, todas as condições de vida autónoma e até superiores a grande número de concelhos existentes.» O Presidente pôs o assunto à discussão e, após uma pausa, constatando o silêncio, concluiu: «Como ninguém pede a palavra, considera-se aprovado.» Seguindo os trâmites, o projecto subiu à Câmara dos Pares, onde tinham assento figuras destacadas do regime monárquico, não suscitando qualquer oposição. O relatório da respectiva comissão, a que pertencia o Marquês da Graciosa, era cautelosamente favorável: «Da criação deste concelho resulta, é verdade, um pequeno aumento de despesas públicas, mas, por tal motivo, não deve recusar-se àquela florescente povoação a autonomia administrativa, que tenazmente deseja e reclama.» Em 17 de Agosto, a lei foi promulgada pelo Rei D. Carlos e publicada uma semana depois, sendo decretada em Setembro a constituição de comissões para gerirem os municípios, até à realização de eleições. O Governador Civil de Aveiro nomeou Augusto Gomes para o cargo de Administrador do concelho, figura que representava o Governo a nível local e exercia poderes em matéria de ordem pública, instalando-se a Câmara Municipal, no dia 21 de Setembro, num edifício sito na actual Rua 19, entre as ruas 16 e 18. A comissão administrativa era presidida pelo médico Castro Soares e integrava quatro vereadores, conhecidos e activos proprietários residentes em Espinho. Em 13 de Novembro, estes elementos seriam reconduzidos nos cargos, em resultado de uma eleição sem concorrência. A equipa responsável pelos primeiros passos da gestão municipal, representava as dinâmicas sociais vigentes e era composta por personalidades marcantes, que continuaram a influenciar a vida da comunidade nos anos seguintes: Augusto Gomes- Nascido em Ovar, emigrou jovem para o Brasil e regressou com capital suficiente para ajudar a fundar, em Espinho, uma fábrica de conservas, onde assumiu a responsabilidade pelo sector comercial e se afirmou como o seu rosto mais marcante. Liderou o movimento para a autonomia do concelho, usando-se do peso que a sua empresa detinha no panorama nacional, como uma das principais exportadoras do ramo. Depois do cargo de Administrador, nunca mais voltou a exercer funções públicas, mas era o chefe incontestado do chamado Grupo da Fábrica, que congregava as forças políticas de cariz conservador. Faleceu em 1924, quando se preparava para instalar em Vigo uma filial da empresa e o município era governado pelas forças de esquerda, lideradas pelo Partido Democrático. António Castro Soares- Médico, natural de S. Paio de Oleiros, radicou-se em Espinho, onde exerceu as funções de Delegado de Saúde, mas foi no campo político que demonstrou notórias qualidades. Depois de ter presidido à primeira Câmara, voltou a desempenhar o cargo em 1908, mantendo-se até à implantação da República. Continuou ligado ao Grupo da Fábrica, em nome do qual presidiu ao Senado Municipal (1916/1919), mas aceitou integrar, em 1925, uma lista do Partido Democrático. Foi designado para liderar a comissão administrativa, após o golpe militar de 1926, na altura em que se decretou o alargamento do concelho, sendo substituído pouco depois. Durante o Estado Novo não assumiu posições políticas, mas continuou a usar o prestígio conquistado, como orador fluente e gerador de consensos, na presidência de assembleias-gerais de colectividades espinhenses, até ao seu falecimento em 1938. Henrique Brandão - Sócio da fábrica de conservas, com a área fabril sob sua alçada, tinha pertencido à comissão de melhoramentos que promoveu a construção da Praça de Touros. Em 1902 presidiu à Junta de Paróquia, que iniciou as obras da actual Igreja Matriz, e regressou, em 1905, à Câmara, como seu presidente. Com a implantação da República afastou-se da cena política, abandonando a direcção da empresa quando os seus sócios desapareceram, remetendo-se a uma vida recatada até ao seu falecimento, em 1935. José Pires de Resende - Natural de Válega (Ovar), fixou-se em Espinho, como farmacêutico, tendo sido presidente da Confraria que antecedeu a Irmandade de N.ª S.ª da Ajuda, e um dos principais inspiradores da independência paroquial. Participou activamente na vida associativa e na fundação de agremiações, fazendo parte da comissão que organizou a primeira feira Em 1899, era vereador da Câmara da Vila da Feira, em representação de Espinho. Manteve-se na vida política fiel ao Grupo da Fábrica, integrando várias vereações (1902/1905, 1908/1910, 1914/1915). João da Silva Guetim - Natural de Guetim, regressou do Brasil com fortuna considerável, sendo um dos cidadãos que emprestou dinheiro para a compra dos terrenos do Cemitério. Manteve-se na segunda vereação (1902/1905), presidida pelo médico Joaquim Pinto Coelho, acompanhando-o, após a implantação da República, em várias comissões administrativas dirigidas pelo Partido Democrático (1912/1916). António de Oliveira Salvador - Negociante e proprietário, era irmão mais velho do médico José Salvador, figura marcante da segunda metade da I República. Foi um dos promotores da criação da feira e de um movimento associativo de comerciantes, bem como Comandante dos Bombeiros Voluntários de Espinho. Fez, igualmente, parte da segunda vereação (1902/1905) e regressou à vida política como administrador do jornal "Gazeta de Espinho", dirigente do Centro Republicano Democrático e vereador desse grupo, ao lado de Pinto Coelho ou do seu irmão (1915/1916, 1919/1922). O primeiro executivo avançou com iniciativas que promoveram o desenvolvimento da povoação: arborizou e limpou ruas; aplicou novas regras de higiene e salubridade; iniciou o abastecimento de água (através de fontanários) e a iluminação pública regular; recuperou a escola primária Conde Ferreira (na actual rua 23); aprovou uma nova planta topográfica, elaborada pelo Eng. Bandeira Neiva, que orientou, em grande parte, o crescimento urbano nas décadas seguintes. No entanto, a Feira mostrava-se inconformada com a situação, pretendendo que o concelho de Espinho fosse reintegrado na sua esfera administrativa, pelo que apresentou, em 25/4/1901, um projecto de lei para a sua extinção, alegando-se que este era "microscópico", "povoado por pescadores e poucas famílias", "com vestígios do seu primitivo carácter". Em resposta, a Câmara Municipal enviou aos poderes públicos um enérgico protesto, em que procurou desmontar, com números e factos, esses argumentos. O Centro Comercial do Porto e a Associação Industrial Portuense (agremiações que mantinham um bom relacionamento com a "Brandão, Gomes") fizeram chegar à Câmara de Deputados petições de defesa da causa espinhense: «Tirar a um povo o direito da emancipação, quando esse povo prova irrefutavelmente que tem elementos de vida independente, é sem dúvida um acto pouco razoável e justo.» Este processo de luta, contra a tentativa de extinção, teve a virtude de dar origem ao primeiro órgão da imprensa escrita local e de revelar o seu fundador como uma das personalidades mais marcantes dos primeiros anos do concelho. Confirmada a necessidade em se dispor de meios próprios de divulgação das causas autonomistas, surgiu, em 6 de Janeiro de 1901, o semanário [A Gazeta de Espinho], que viria a constituir-se como uma tribuna privilegiada de informação e de debate, com uma presença regular (apesar de alguns hiatos circunstanciais) ao longo de trinta anos. O seu primeiro animador não se quedou pelas lides jornalísticas e desempenhou um papel de realce na vida local. Natural de Mozelos e antigo vereador na Feira, o médico Joaquim Pinto Coelho radicou-se em Espinho e aderiu, desde o início, à sua causa, sendo eleito, sem concorrência, como presidente da segunda vereação (1902/1905), período em que se concretizaram uma série de projectos: concessão do fornecimento de energia eléctrica a uma empresa espanhola, início de um serviço público de higiene e limpeza, construção de uma nova escola primária (que ainda funciona, próxima dos Paços do Concelho), etc. Concluído o mandato, entrou em confronto com o denominado Grupo da Fábrica, filiando-se pouco tempo depois no Partido Republicano, força que passaria a liderar em Espinho e ao serviço da qual exerceria, durante a I República, os cargos de Administrador do Concelho e de Presidente da Câmara. Conhecido, popularmente, como o "médico dos pobres", empenhou-se no combate à epidemia do tifo, da qual foi vítima em 1917. O projecto de extinção acabou, naturalmente, por abortar, atenuando-se os antagonismos entre as duas localidades, apesar de Espinho continuar, por muitos anos, ligado ao concelho de origem pela via judicial, como parte integrante da comarca da Feira, já que nesse campo a autonomia, apesar das múltiplas diligências levadas a cabo, mostrou-se muito mais custosa, apenas se concretizando em 1973, nos últimos tempos do Estado Novo.

4***A FASE DE AFIRMAÇÃO***

Os cuidados tidos aquando do desenho dos limites, foram comprovados na prática, pois Espinho enfrentava perigosas investidas do mar e começava a assistir ao desaparecimento do seu aglomerado primitivo. A distância entre a linha de maré-alta e a via férrea, no seguimento da actual rua 19, que era de 450 metros em 1866, começou a encurtar-se à medida que a força das águas destruíam palheiros, casas, travessas e ruas, sendo em 1889 de 355 metros. Os factos ganharam uma dimensão tal, que a Rainha-Mãe, D. Maria Pia, a banhos na Granja, visitou Espinho, em 1891, e doou uma verba para construção de novas casas (36) para pescadores, em terreno cedido pela Junta de Freguesia (sito a poente da actual Rua 2, entre as Ruas 35 e 39), passando esse pequeno aglomerado a ser conhecido como "Bairro da Rainha". Iniciou-se, deste modo, uma mudança do núcleo piscatório para sul, facto que materializou, em termos geográficos, o crescente distanciamento entre diferentes modos de vida, com o isolamento dos costumes piscatórios, face à emergência do aglomerado urbano peculiar, com tiques citadinos. Com a autonomia administrativa, os novos responsáveis locais viram-se na necessidade de resolver os problemas mais prementes. A principal limitação da paróquia residia na falta de um cemitério próprio, o que a mantinha sujeita à dependência de Anta e a uma série de incidentes, pois vários funerais sofreram tentativas de interrupção por parte de alguns populares mais hostis aos espinhenses. Em 1891, um casal de lavradores daquela freguesia (Joaquim Francisco da Silva Rocha e Fabiana Alves de Oliveira), indiferentes a esses antagonismos, doaram um terreno perto da Fonte do Mocho (antigo lugar da Urgueira), para que a Junta de Espinho aí criasse um Cemitério, cuja construção só foi possível através de empréstimo concedido por alguns cidadãos locais, nomeadamente o presidente Branco Miguel, o farmacêutico Pires de Resende e o proprietário João Guetim. Estabelecendo um relacionamento tenso com a Companhia dos Caminhos-de-ferro, a localidade agitou-se quando foi confrontada com o anúncio de que a via férrea iria ser vedada com um muro de vários metros de altura, tendo-se constituído uma comissão que foi a Lisboa apresentar os seus protestos e viu as suas reivindicações satisfeitas, pois a solução foi alterada, em Agosto de 1893, no sentido de ladear a linha com uma grade de ferro e de instalar uma ponte para peões, na passagem da actual Rua 19, conhecida durante décadas como a "Passarelle". À medida que a população se diversificava, a conjugação de esforços tornou-se um imperativo, pelo que as dinâmicas associativas deixaram de se confinar à esfera religiosa, para incidirem nos domínios da solidariedade e da segurança. A Associação de Socorros Mútuos de Espinho, fundada em 1894, por iniciativa de António Augusto de Abreu, abriu-se a todos os interessados, e não só à base operária como sucedia na maioria dos casos, prestando apoio social face à inexistência de qualquer sistema a cargo do Estado. Os seus sócios tinham direito a medicamentos gratuitos, assistência médica extensiva à família, e vários subsídios (doença, desemprego temporário, prisão, funeral). A Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Espinho, criada em 1895, por José Vitorino Damásio, como uma simples secção da Real Associação dos Bombeiros Voluntários do Porto, não precisou de muito tempo para demonstrar a sua utilidade vital no socorro a situações de catástrofe, autonomizando-se em 1900. Dispunha, no princípio, de uma bomba de jacto duplo e de um carro de escadas com tracção manual, iniciando a actividade no apoio a um acidente com um pescador e no combate a incêndio numa chaminé. As mudanças também se fizeram sentir a nível do tecido económico, com o aparecimento de actividades e equipamentos relevantes. Um empresário natural do Porto, João Baptista de Carvalho, mandou construir uma sala de espectáculos, com 24 camarotes, 500 lugares de plateia e 250 de galeria, num terreno que confrontava com as actuais ruas 19 e 16 (por isso, conhecida como Avenida do Teatro). Designado por Teatro Aliança, abriu as portas em 2 de Agosto de 1890, com o drama "A Falsa Adúltera", representado pela "Troupe Artística", dirigida pelos actores Taveira e José Ricardo. Em 1899, um grupo de cidadãos avançou com a edificação de uma Praça de Touros, em madeira e com capacidade para 500 espectadores, em terrenos próximos dos actuais Paços do Concelho. Em 1894, mais concretamente no dia 1 de Junho, passou a realizar-se uma Feira, nos terrenos do actual Parque João de Deus, por iniciativa de individualidades de freguesias vizinhas, interessadas no escoamento da produção agrícola, e de comerciantes locais, conscientes de que esta seria uma forma de atrair consumidores de outras localidades, que não ficariam pela feira, mas que procurariam, por certo, os seus estabelecimentos, como se veio a comprovar de imediato. A comissão que organizou o evento era constituída pelo médico, de Anta, António Pinto de Araújo Ribeiro, pelo negociante António de Oliveira Salvador e pelo farmacêutico Pires de Resende. A oferta deste mercado, que começou por ser mensal e realizado ao domingo, era diversificada, incluindo géneros alimentares, utensílios agrícolas, gado, fazendas, quinquilharias e objectos de ouro, relógios e máquinas de costura. Os efeitos da Revolução Industrial, provocada pela utilização da máquina a vapor, trouxeram um incremento às actividades produtivas, designadamente ao ramo das conservas de peixe (tendo o primeiro estabelecimento surgido na cidade de Setúbal, em 1880), que passaram a constituir, a par do vinho e da fruta, a tríade de produtos nacionais conhecidos no estrangeiro. Em Espinho, existiam, desde há muito, pequenos negócios ligados à salga de peixe e respectivo comércio, tendo sido tentadas algumas iniciativas fabris, por operadores de Matosinhos, mas nenhuma vingou, até à criação, em 1894, de um empreendimento com efectiva sustentabilidade. Instalada num terreno pantanoso, a sul do novo aglomerado piscatório, a Fábrica de Conservas "Brandão, Gomes & C.a", foi fundada pelos irmãos Brandão (Henrique e Alexandre) e pelos irmãos Gomes (Augusto e José, que cedo sairia da sociedade), todos oriundos de Ovar e regressados do Brasil, onde angariaram fortunas consideráveis. Introduzindo os processos e a maquinaria mais moderna, com tecnologia importada (França, Holanda e Alemanha), a Fábrica centrou-se na conserva da sardinha (pois a capturada nas águas de Espinho era tida como excepcional, visto não possuir escamas), mas disponibilizava uma oferta diversificada, que incluía outros tipos de peixes, sopas, legumes, carnes, compotas e refeições preparadas. A energia era fornecida por um motor de explosão a gás pobre, por outro com três caldeiras a vapor e por um dínamo para iluminação eléctrica (em 1897, estavam já instaladas cerca de 150 lâmpadas), empregando um contingente de trabalhadores variável conforme o volume de matéria-prima (entre 300 e 500 pessoas, predominantemente do sexo feminino). Nos primeiros seis meses de laboração, foram produzidas 40 toneladas de produtos, pelo que foi celebrado um contrato, com os Caminhos-de-ferro, para o transporte mínimo anual de 70.000 quilos, sendo o seu escoamento dirigido, preferencialmente, para a exportação, onde pontificavam os mercados de África e do Brasil. A sua estratégia de penetração apoiou-se na qualidade e numa campanha publicitária intensiva, a partir da divisa "Melhorando Sempre", pelo que angariou, em pouco tempo, o reconhecimento público. Em 1895, foi nomeada, por alvará de D. Carlos, fornecedora da Casa Real, "tendo em consideração o seu progressivo desenvolvimento industrial". Em 1897, o Júri da Classe IV da Exposição Industrial do Porto, atribui-lhe a única medalha de ouro para o ramo conserveiro, e o Governo agraciou-a, um mês depois, com o oficialato da Ordem de Mérito Industrial. A Fábrica de Conservas "Brandão, Gomes & C.ª", ao atingir proporções relevantes no mercado nacional, teve uma influência determinante no desenvolvimento de Espinho: absorvia grande parte do pescado, assegurando a sobrevivência de centenas de famílias; criou postos de trabalho, atraindo novos residentes e gerando rendimentos que aumentaram o poder de compra e permitiram consolidar o comércio local; gerou um aumento das receitas fiscais cobradas na freguesia, transformando-a numa das mais rentáveis do concelho da Feira; estimulou o progresso tecnológico, arrastando inovações decisivas como a luz eléctrica, o telefone e o telégrafo; promoveu o nome de Espinho, associando-o ao prestígio da sua marca, pelo que funcionava como cartaz de propaganda turística. Esta visibilidade de Espinho, deu origem ao facto simbólico de esta ter sido a terceira localidade do país a testemunhar a novidade do Cinematógrafo, inventado em 1895 pelos irmãos Lumiére. Segundo Félix Ribeiro, historiador do cinema em Portugal, terá vindo de França, logo em 1896, um inglês, agente da casa Paul, que comercializava o invento. Carregado de um projector e de algumas bobinas com fotografias animadas, Erwin Rousby teve grande receptividade do público de Lisboa, mantendo a sala cheia durante o mês de Julho. Em Agosto, veio para o Porto, mas não recebeu o mesmo entusiasmo, pelo que decidiu fazer uma exibição em Espinho, no dia 11 de Agosto, antes de regressar a Lisboa. Nos finais do século XIX, Espinho era, em suma, uma localidade completamente transformada, tinha uma actividade económica regular e rentável, possuía uma série de equipamentos colectivos pouco vulgar e norteava-se por uma dinâmica associativa estimulante, pelo que podia considerar-se como uma realidade muito distinta do panorama ruralizado e depressivo reinante na sua circunscrição administrativa.

5***A CRIAÇÃO DA FREGUESIA***

Em meados da década de sessenta do século XIX, o traçado urbano de Espinho tinha na via férrea a linha divisória entre nascente e poente, sendo a distância entre aquela e a Rua do Cruzeiro (actual Rua 2) de 120 metros , enquanto que daí até à praia percorriam-se 220 metros , aumentando para 310 metros na direcção da Rua de Camões (actual Rua 25). O eixo principal designado por "Chiado", com início junto à praia subia, para lá da linha, até encontrar um largo com moradia (onde funcionava uma botica de farmacêutico) e uma mina de água, ao qual se seguia uma via sinuosa até aos limites de Anta. A maioria das casas situava-se abaixo do caminho-de-ferro (100 palheiros, 60 construções antigas e 65 construções modernas), sendo raras as habitações localizadas a nascente, onde existia um pinhal com 4 casebres (no quarteirão entre as ruas 12-16 e 19-25), o largo da Murta, fronteiro à estação, com 8 prédios recentes, e algumas edificações dispersas (7 casas e 3 palheiros). A existência de um núcleo densamente povoado e sem condições de expansão, levou a Câmara Municipal da Feira, em 1876, a proceder a esforços de ordenamento, de modo a que a povoação deixasse de se confinar ao perímetro tradicional e se estendesse para nascente, a partir de uma planta topográfica elaborada, a título gracioso, pelo Eng.º José Coelho Bandeira de Melo. Assim, prolongou-se o "Chiado", através de expropriações, passando a nova artéria a ostentar o nome do autor da planta (actual Rua 19), enquanto que o largo da Murta ficou com o nome do mais conceituado dos frequentadores da praia, o Marquês da Graciosa. Foram construídas as ligações ao Picoto e à Feira, abertas novas ruas, sendo as paralelas ao caminho-de-ferro arborizadas e iluminadas durante o Verão. Em termos de equipamentos, foi construído um Matadouro (no local dos actuais Paços do Concelho) e cedida uma casa, na Rua do Norte (actual Rua 4), para sediar a Estação Telegráfica dos Correios de Espinho. «De um ano para o outro surgiram ruas inteiras povoadas, por completo, de construções novas e, nas já existentes, os velhos casebres e palheiros esbeiçados desapareciam, para dar lugar a elegantes e bem lançados prédios, que se alinhavam em largas e espaçosas ruas.» (André de Lima) A vida da população residente girava em torno de preocupações religiosas, pois as relações com o pároco de Anta não eram fáceis e a Capela dos Galegos mostrava-se desadequada. No entanto, foi neste templo que se celebraram as primeiras festas, em 1869, dedicadas a Santa Rita, enquanto que no ano seguinte também honravam Nossa Senhora da Ajuda, muito popular entre as pessoas oriundas de Ovar, pelo que a capela passou a estar-lhe votada, em detrimento da originária Nossa Senhora da Guia. As diligências para a construção de um novo espaço deram lugar a duas iniciativas distintas: uma defensora da sua localização longe das investidas do mar, liderada pelo Marquês da Graciosa; outra favorável à sua permanência na costa, protagonizada pela classe piscatória, com o apoio do Comendador Sá Couto. A primeira solução avançou de imediato, sendo inaugurada, em 1877, a Capela de Santa Maria Maior (ainda hoje aberta ao culto, na Rua 8, entre as Ruas 25 e 23). A segunda hipótese encontrou mais dificuldades no seu financiamento, pelo que só foi benzida em 1883, como Capela de Nossa Senhora da Ajuda, sendo o antigo templo incendiado, de acordo com as normas eclesiásticas em vigor, e criada a Confraria do Santíssimo Sacramento para proceder à sua gestão. A consequente auto- suficiência aumentou a clivagem com a sede da freguesia, passando a contestação ao poder instituído a basear-se em questões relacionadas com o quotidiano religioso, segundo a liderança da Irmandade de Nossa Senhora da Ajuda, que substituiu, em 1885, a Confraria, mantendo-se a sua presidência a cargo de José António Pires de Resende, farmacêutico natural de Ovar. De acordo com a organização administrativa, as freguesias eram dirigidas por uma Junta de Paróquia, com competências em matéria de gestão da Igreja, do cemitério e dos baldios. Tendo Espinho a maioria de cidadãos recenseados (350 num total de 550 eleitores), a Irmandade apresentou candidatura à Junta, dando lugar a quatro eleições sucessivas e sempre anuladas, visto Anta não assumir a sua derrota. O clima de tensão foi-se adensando, aumentando as situações de confronto aberto com o pároco, pelo que Espinho chamou para a defesa da sua causa o Conselheiro Correia Leal, deputado do Partido Progressista pelo círculo da Feira e proprietário de uma casa na praia. Os argumentos apresentados mereceram o acolhimento do Bispo do Porto, D. Américo dos Santos Silva, que autorizou o uso da Capela "como Sacrário e Pia Baptismal, para o bem-estar espiritual e temporal de todos", passando a população a precisar de Anta só para receber o sacramento do matrimónio e para enterrar os seus mortos. A Câmara Municipal da Feira, também, se pronunciou favoravelmente, no sentido de que os esforços despendidos, para construir e manter a Capela, constituíam prova cabal da existência de recursos suficientes para custear os encargos ordinários de uma vida paroquial independente. Preparadas para a provável autonomia, as forças locais trataram de limitar o território, tarefa que ficou a cargo do mais antigo comerciante da localidade (Manuel António Pereira, proprietário de uma loja de louças, fundada em 1864) e de um fotógrafo (de apelido Ferreira, com "atelier" na Rua da Estrela). Preocupados com as investidas do mar, cortaram os limites o mais para cima que lhes foi possível, a fim de se dispor de uma área de terrenos para acolherem novos prédios, definindo as seguintes referências: a poente, o mar; a nascente, a estrada de Silvalde que seguia até à Ponte de Anta e terminava na Tabuaça; a norte, a freguesia de S. Félix da Marinha; a sul, uma extensão arenosa desde a Rua 1.º de Dezembro (actual Rua 29) até à zona de implantação da futura fábrica de conservas. Sustentado nas posições da Diocese e da Câmara Municipal, o Governo pode avançar, em 23 de Maio de 1889, por decreto do Ministério dos Negócios Eclesiásticos e de Justiça, com a criação da Paróquia de Nossa Senhora da Ajuda, mas a decisão ficou incompleta, visto não ter sido dissolvida a Junta de Paróquia. Assim, Espinho continuava na dependência de Anta, à qual tinha de pagar contribuições, só vendo consagrada, um ano depois, a independência para efeitos civis e administrativos, por intermédio de novo decreto, em 30 de Dezembro de 1890. Realizadas as eleições, em 15 de Fevereiro do ano seguinte, a Junta passou a ser constituída por um conjunto de homens ligados à pesca e à Irmandade: António de Pinho Branco Miguel(Presidente); Manuel Fernandes Tato (Vice-Presidente); António Maria Pereira Americano, Marcelino de Oliveira Dias e José Rodrigues Cação Serrano (Vogais). Este modelo de organização, assente exclusivamente na sociedade civil, viria a ser alterado, em 1896, com a atribuição da presidência da junta ao respectivo pároco, sistema que permaneceria até à instauração da República. As reacções de Anta à autonomia de Espinho fizeram-se sentir a vários níveis, concretamente a indisponibilidade de lugares em integrarem a nova freguesia, tendo dado origem a decisão governamental que transferiu, em 1896, os lugares da Ponte de Anta, da Tabuaça e do Mocho, para a jurisdição da freguesia de Anta.

6***A ESTÂNCIA BALNEAR***

A evolução registada na sociedade portuguesa ao longo do século XIX, repercutiu-se no processo de crescimento de Espinho. A alteração de costumes e a modernização dos meios de transporte induziram mudanças radicais nas rotinas do seu núcleo permanente, gerando outros tipos de interesses e outras dinâmicas. As classes sociais com maior poder económico, da nobreza à burguesia, importaram uma série de hábitos em voga na Europa, designadamente a prática de passar parte do tempo disponível fora de casa (a que se convencionou chamar de vilegiatura), quer no campo quer na praia, tornando-se frequente, a partir de 1840, a atracção pelo mar (que os franceses rotulavam como o "désir du rivage"), passando Espinho a ser frequentado, no Verão e no Outono, por famílias da Feira, de Oliveira de Azeméis, da Anadia, de Arouca e, também, do Porto.Esta prática originou novas actividades e induziu à construção de mais habitações, principalmente para uso sazonal, algumas de madeira, outras de pedra e cal, a primeira das quais construída, em 1843, por um industrial de Oleiros, fabricante de papel, chamado José de Sá Couto. Os proprietários de barcos de pesca dedicaram-se, também, a organizar as "idas a banhos" (como eram popularmente conhecidas), alugando barracas de madeira, pintadas com cores garridas, e apoiando os veraneantes no uso das terapias proporcionadas pelo mar. O comércio era, claramente incipiente, não existindo, em 1864, fabrico de pão, que vinha do Porto ou da Feira, mas tão só algumas mercearias, 13 tabernas, uma botica de farmacêutico, uma loja de louças e outras utilidades, um talho de carne de vaca, bem como uma assembleia recreativa para organização de bailes e demais divertimentos. Os benefícios do comboio ainda não se faziam sentir, pois os viajantes tinham que se apear na Granja ou em Esmoriz, donde se transportavam, com malas e bagagens, em carros puxados a bois. Quando, em 1863, a linha férrea, entre Ovar e Gaia, entrou em funcionamento, Espinho não foi dotado de apeadeiro, apesar de ser a povoação marítima, de Aveiro ao Porto, mais próxima da via, pois a distância da passagem de nível à primeira casa era de 100 metros , só parando comboios para carregar caixotes com o pescado. A fim de inverter a situação, encetaram-se negociações com a Companhia Real dos Caminhos -de-ferro, por iniciativa de três banhistas influentes: o comendador Joaquim de Sá Couto (filho do primeiro proprietário de casa de pedra e cal), o Marquês da Graciosa (natural da Anadia) e o advogado Joaquim Correia Leal (natural de Paços de Brandão). O apeadeiro foi instalado em 1870, ao passo que a estação foi inaugurada em 1874, momento a partir do qual surgiu outra visibilidade, com um movimento de passageiros estimado em 1200, datando desse ano registos que calculavam a população, na época balnear, em cerca de 3000 pessoas, enquanto o número de residentes fixos se ficava por 600 indivíduos. Os estabelecimentos comerciais difundiram-se com facilidade (principalmente sucursais de lojas do Porto), apareceram os primeiros hotéis ("Bragança", "Particular", "Nova Estrela"), multiplicaram-se os cafés e botequins. Em qualquer destes espaços funcionavam casinos, apesar de não serem permitidos por lei, mas tolerados pelas autoridades, atendendo ao seu papel como fonte de negócio e de entretenimento. Entre essa gama diversificada de estabelecimentos, destacaram-se, durante décadas, duas casas, situadas no quarteirão poente, fronteiro à via-férrea (onde se situa hoje o Casino), que funcionaram como pontos de referência e símbolos de uma certa forma de estar. A Assembleia Recreativa, que se começou a construir em 1864, era a sede de um grupo de elite (donde constava o nome do Comendador Sá Couto), que antes se reunia em casa alugada junto ao mar, e estava preparada para a realização de festas e para funcionar como espaço de lazer, com salas de jogos e de bilhar. Na esquina, com a actual Rua 19, ficava o Hotel e Café Chinês, aberto em 1888, sob a gerência do fotógrafo Carlos Evaristo, que também possuía sala de jogo e orquestra permanente, passando à história como o local preferido de tertúlias com diferentes origens sociais. Todo este ambiente, que transfigurou a colónia piscatória, foi descrito por Ramalho Ortigão ("As Praias de Portugal"-1876; "As Farpas"- 1872/1882), que classificava as estâncias balneares em dois tipos: as aristocráticas, com uma acentuada selecção social (Costa do Estoril ou Granja); as democráticas, com uma frequência diversificada (Nazaré, Figueira da Foz, Póvoa de Varzim ou Espinho). Acorriam gentes de todas as proveniências, numa atmosfera animada, a que não faltavam o estourar de foguetes na estação, sempre que chegavam comboios com novos turistas: famílias lisboetas ou espanholas, janotas da Régua ou de Viseu, negociantes de Penafiel ou do Porto, lavradores minhotos ou transmontanos, funcionários públicos e magistrados. «Espinho é, com efeito, e por excelência, além da costa célebre da sardinha, a piscina consagrada da magistratura.» (in "As Farpas")

7***A COLÓNIA PISCATÓRIA***

Os livros de registos da paróquia de Anta incluem, a partir de 1771, assentos de nascimentos e óbitos ocorridos no lugar de Espinho, ainda que com carácter irregular, pois manter-se-ia o hábito de ocupação temporária da costa durante o verão, com regresso a Ovar, quando as condições naturais assim o exigiam. Essas migrações cíclicas terminariam, a partir do momento em que se descobriram novos métodos de trabalho. Em 1776, chegou ao Furadouro um francês, chamado Jean Pierre Mijaule e natural de Languedoc, que aí instalou um armazém de conservação em salmoura, permitindo manter o peixe durante vários meses e, consequentemente, vendê-lo no inverno a preços muito superiores, quando antes os excedentes eram cedidos aos agricultores, para adubo, a preços mais baixos. Quando se apoderaram dessa técnica, alguns núcleos decidiram fixar-se definitivamente nas zonas onde permaneciam na época de pesca, pois passaram a ter fonte de negócio todo o ano, podendo diversificar os métodos e recolher maiores quantidades e outra variedade de géneros: junto à costa através da "arte pequena" (faneca, polvo, linguado, caranguejo); a maiores distâncias através da "arte grande" ou "arte xávega" ( principalmente sardinha). Quando o peixe recolhia às dornas de salmoura e as tarefas comerciais eram asseguradas pelos mais velhos e pelas mulheres, intensificavam intercâmbios com outras colónias a norte (Afurada, Matosinhos, Póvoa de Varzim), pelo que as ligações com Ovar se foram diluindo.A povoação do lugar de Espinho, distante dois quilómetros da paróquia de Anta, era constituída, no início do séc. XIX, por cerca de 120 famílias, que habitavam em casas de madeira, amontoadas em torno de um largo e ligadas por vielas estreitas, enquanto junto ao mar se situavam barracos, para guarda dos aparelhos de pesca e instalação dos armazéns de salga. Em 1809, concluiu-se a construção de uma capela, votada ao culto de Nossa Senhora da Guia, usual na Galiza, cabendo a iniciativa a Eugénio Nunes, de origem galega e residente na costa, onde herdara uma série de bens (casas, armazéns, um quintal e o único poço de água do lugar). A sua situação económica conferia-lhe um significativo grau de influência, comprovado pelo facto de, apesar das relações difíceis que o povoado mantinha com o pároco de Anta, ter conseguido o apoio da Casa do Infantado (entidade gestora do antigo Condado da Feira) e o consequente diferimento do Bispo do Porto. O templo, que passou a ser conhecido como "Capela dos Galegos", foi benzido, na sua abertura, pelo pároco de Esmoriz, albergando também as imagens de S. Francisco e de Santa Rita, vindas de um convento de Gaia. O facto de existirem famílias oriundas da Galiza, com propriedades herdadas de antepassados, reforça a ideia de ter sido a costa, também, colonizada por movimentos provenientes dessa região, que mantinha intercâmbio com Gaia desde há muitos séculos, nomeadamente em matéria de pesca. Deste modo, é mais fácil estabelecer alguma relação lógica com a lenda dos dois galegos, cuja discussão, em torno da natureza de um pedaço de madeira trazido pelo mar ("Es piño!"), seria o ponto de partida etimológico para "Espinho", sem no entanto se poder conferir-lhe qualquer consistência. A este propósito, o Padre André de Lima, espinhense que nos inícios do século passado publicou artigos sobre história local, era peremptório:"É para evitar que se escrevam destas e semelhantes tolices que eu reconheço ser preciso publicar o que sei sobre Espinho(...)".

.

.

..

..
rosam@r. Tema Marca d'água. Com tecnologia do Blogger.